Bom dia! Sou Dulcimarta Lemos Lino pianista, professora de musica e atualmente, estou, Coordenadora da Regiao Sul FLADEM BRASIL. Agradeço a importante contribuição do texto de Mano Teko e Pedro Mendonça que contribuem sobremaneira para movimentar e resistir. Ao ler o texto, ainda embalada pelas intensas experiências vividas ontem à noite aqui em Porto Alegre, me arrisco a dizer que TOCAR e tocar as culturas musicais marginalizadas é o grande papel da presente discussão.
Explico: aqui na UFRGS, onde trabalho, estamos vivendo a VIII Jornada KUSCH, grande pensador argentino que aporta a cultura e seu entendimento como ponto de partida para a resistência da América Profunda, a partir da reflexão contemporânea dos povos originários. Ontem à noite tivemos uma Mesa formada por 3 musicos, Richard Serraria, gaúcho, negro da periferia de Porto Alegre que nos ensina a tocar o SOPAPO GRIô e conhecer a musica negra do litoral gaúcho (ainda totalmente desconsiderada nos currículos escolares e universitários), Raul Nobrega, grande percussionista argentino que nos conta a história do Bombo nas américas e sua forma de exclusão e empoderamento, e, ainda Oscar Fernandes que aborda a partir de Victor JARA a musica popular argentina contemporânea. Saberes de territórios interculturais que foram sendo desconsiderados e esmagados como o relato de Pedro e Mano sobre o Funk. Desde quarta feira a universidade esta sendo tomada pelo povo indígena, negro “diferente” e não nos amedrontamos por constatar as viradas de nariz e o incômodo que esse habitar ainda causa, na PRATICA, dentro da universidade.
Aqui em Porto Alegre, também vivemos um momento histórico na década de 1990 onde organizações governamentais quiseram instituir o Funk nas comunidades, definindo seus jeitos e formas de fazer. Impondo formas de produção e gravação. Além dos produtores definirem “suas fôrmas e jeitos de soar” que ainda repercutem em diferentes comunidades. Hoje quando o SLAM invade nossa periferia, grito político histórico cultural de resistência para marcar a violência e a exclusão que nosso povo CONTINUA as autoridades logo se ocupam em inventar e promover encontros com o "Slam chamego" que se encaixa no "romantismo brega sertanejo" e interrompe toda uma cadeia de resistencia e luta política iniciada na comunidade Bom Jesus aqui em Porto, comunidade negra da cidade, ferida que querem apagar. Infelizmente a condição de miséria e violência vivida pelo jovem negro continua semelhante em diferentes contextos atuais na latinoamerica inteira.
Matar indígenas, acabar com MArielles, silenciar a academia, se enconstar no sofá parece ser o mais cômodo a fazer. Ao viver in loco nos subúrbios de minha pequena grande cidade e estar com essas comunidades na escola pública gaúcha, tentamos "estar sendo" junto, resistindo a colonização imposta e movimentando barbáries que não cansam de soar.
Dulcimarta, só descobri que havia esse fórum de debate hoje acredita? Fiquei muito feliz e ler o seu relato e reflexões a respeito da "cena" de Porto Alegre, os racismos e discriminações que as práticas da diáspora sofrem em diferentes locais do Brasil, e os caminhos de resistência que vocês estão construindo! Ficarei atento e espero ter a possibilidade de estar em interlocução contigo em breve! Um caminho é árduo e longo, ainda mais na conjuntura em que vivemos, porém vamos trocando, aprendendo uns com os outros e investindo em dinâmicas resistentes para dar conta disso tudo.
Dulcimarta, que interessante saber dessas ações em Porto Alegre. Todas as músicas são possíveis, desde que façam sentido para quem a faz. Considero o funk carioca um gênero a ser respeitado por todos. O preconceito contra ele é imenso, mas pensar como ele deve 'estar' na escola como prática educativa é que o grande xis da questão. Pensar como ele pode ser incluído na escola de forma criativa é um assunto a ser discutido aqui.